Na verdade, o livro de Jó explora justamente a questão do sofrimento do justo. O livro traz um quadro da vida de Jó, um homem justo e piedoso que, com a permissão de Deus, acabou passando por intenso sofrimento. Neste estudo faremos uma introdução completa ao livro de Jó.
Autor e data do livro de Jó
A identidade do autor do livro de Jó é um dos assuntos que desperta maior curiosidade entre os estudantes da Bíblia. Isso porque não há qualquer informação a respeito de quem foi essa pessoa. O livro inclui muitos discursos de Jó e de seus amigos, mas não existe nenhuma evidência de que um deles tenha sido o escritor do livro.
Se o autor do livro de Jó é desconhecido, o mesmo também pode ser dito de sua data de composição. Não é possível afirmar com exatidão quando o livro de Jó foi escrito. Além do mais, uma coisa é data em que a história registrada no livro aconteceu, e outra coisa é a data em que o livro foi produzido da forma como o temos na Bíblia.
A história de Jó parece se passar no tempo patriarcal. Isso porque o livro de Jó deixa implícito que Jó viveu perto dos 200 anos de idade (em Jó 42:16). Jó também desempenhava o papel de sacerdote da família, algo que ocorria no período patriarcal. Além disso, as riquezas de Jó não eram contabilizadas em ouro e prata, mas pelo tamanho de seus rebanhos. Então talvez Jó tenha vivido num tempo anterior a Abraão ou contemporâneo dele. No entanto, o que de fato se sabe é que ele tinha conhecimento do verdadeiro Deus.
Mas uma vez que Jó provavelmente tenha vivido na época dos patriarcas, isso não significa que o livro de Jó foi escrito nesse mesmo período. Na verdade, possivelmente o autor de Jó foi alguém que viveu num período posterior e usou escritos antigos do tempo dos patriarcas como fonte de pesquisa para a forma final de seu livro. Uma grande evidência nesse sentido é o fato de que o autor se refere a Deus como Yahweh, o nome divino da aliança com Israel.
Portanto, tudo indica que o autor do livro de Jó era um israelita. Pelo estilo de escrita, muitos eruditos têm sugerido que esse autor escreveu entre o tempo de Salomão e o período próximo ao exílio (entre 970 e 586 a.C.); uma época em que houve grande desenvolvimento da literatura poética e de sabedoria em Israel.
A mensagem do livro de Jó
A mensagem do livro de Jó mostra que Deus permite que os justos sofram, sem que isso seja um problema para a infinita bondade e justiça de Deus. Nesse sentido, o livro de Jó desenvolve esse tema de modo a responder os principais questionamentos a respeito do porquê os justos sofrem.
Então o livro de Jó antecipa um argumento muito utilizado que diz que os justos sofrem porque Deus não é plenamente justo e bom. Mas o livro de Jó responde de forma clara que esse tipo de entendimento não faz sentido, porque apesar do sofrimento dos justos, Deus é totalmente justo e bom (Jó 1:1-2:13; 42:7-17).
Como o livro de Jó testifica de forma indiscutível a respeito da bondade e da justiça de Deus, alguém então pode argumentar que o justo sofre porque Deus não é capaz de livrá-lo do sofrimento. Em outras palavras, quem pensa assim coloca em dúvida a soberania de Deus.
Mas o livro de Jó reprova esse tipo de pensamento afirmando que Deus é onipotente e, portanto, todas as coisas estão debaixo de sua soberania (Jó 37:14-27). Nesse ponto encontramos um versículo clássico no livro de Jó sobre isso: “Bem sei que tudo podes, e nenhum de seus planos pode ser frustrado” (Jó 42:2).
Se Deus é absolutamente bom, justo e soberano, então outro argumento que pode ser levantado para explicar o sofrimento do justo é que tal sofrimento é um tipo de justiça retributiva por causa do pecado.
Em outras palavras, esse tipo de pensamento diz que onde há sofrimento há pecado – nem que for oculto – de modo que o sofrimento é o resultado de uma vida pecaminosa. Mas de forma geral o livro de Jó também rebate esse tipo de ideia ao afirmar que nem sempre o sofrimento está relacionado a uma conduta de pecado.
Por último, a mensagem do livro de Jó então trata do sofrimento do justo afirmado que Deus é bondoso, justo e soberano, e o homem muitas vezes não é capaz de entender os sábios desígnios de Deus (Jó 28).
Deus cumpre os seus propósitos eternos de muitas maneiras, inclusive permitindo o sofrimento dos seus servos. O fato de frequentemente o homem não entender os propósitos de Deus por trás do sofrimento, não lhe dá o direito de questionar a justiça, a bondade e a soberania de Deus. A história de José do Egito é um exemplo de como Deus pode aperfeiçoar a fé e o caráter de seus servos através do sofrimento, e tornar o mal em bem para cumprir os seus propósitos eternos (Gênesis 50:20).
Resumo do livro de Jó
O livro de Jó começa mostrando o sofrimento do justo de uma perspectiva divina. Os primeiros capítulos registram a cena de um desafio lançado no Céu. Deus perguntou se Satanás havia observado a fidelidade de Jó.
Acusador como é, Satanás então prontamente alegou que Jó era fiel a Deus por conveniência. Na lógica de Satanás, Jó servia a Deus por interesse, ou seja, porque Deus lhe abençoava muito. Então Deus permitiu que Jó fosse testado. A partir dali a fé de Jó começou a ser provada e aperfeiçoada através de terrível sofrimento. Jó foi atingido por calamidades de todos os lados. Ele perdeu seus bens materiais, seus filhos e sua saúde (Jó 1:1-2:13).
Os capítulos seguintes do livro de Jó mostram como o sofrimento é interpretado da perspectiva humana (Jó 3:1-27:23). Num primeiro momento Jó e seus amigos tentaram entender os motivos do sofrimento humano à luz da realidade da justiça, da bondade e da soberania do Senhor. Nesse ponto o autor do livro de Jó registra os longos diálogos de Jó e seus amigos.
No geral, os amigos de Jó se mostraram insensíveis e fizeram uma avaliação equivocada do problema, aplicando os princípios bíblicos de forma errada. Eles falharam em reconhecer a soberania de Deus por trás do sofrimento e basicamente se dedicaram a tentar encontrar o pecado em Jó como motivo de toda aquela dor.
Jó então confrontou seus amigos e rejeitou a argumentação deles. Mas Jó também não foi capaz de explicar o motivo do sofrimento do justo enquanto muitas vezes os ímpios prosperam. Basicamente Jó estava sofrendo e não tinha qualquer ideia do porquê.
Algumas vezes Jó pensava que Deus estava irado com ele, mas ele não duvidou da justiça de Deus. Jó clamou em busca de justificação, embora nesse processo todo ele tenha falando de coisas que não sabia.
Depois disso o livro de Jó traz um interlúdio sobre a sabedoria destacando que ninguém é capaz de sondar a sabedoria de Deus. Somente Deus é o possuidor de toda sabedoria, enquanto as habilidades humanas são limitadas. Então cabe ao homem apenas temer a Deus e obedecer aos seus preceitos (Jó 28:1-28).
Em seguida o livro de Jó registra um monólogo de Jó em que ele reflete sobre sua vida, afirma sua inocência e espera por justificação (Jó 29:1-31:40). Então na sequência o livro de Jó mostra os discursos de um homem chamado Eliú. Em seus discursos, Eliú exortou Jó a entender que o Senhor pode revelar o seu propósito amoroso mesmo ao permitir o sofrimento do justo, e que ele precisava esperar pacientemente no Senhor (Jó 32:1-37:24).
Na parte final do livro de Jó há os discursos de Deus direcionados a Jó; e também a humildade e o arrependimento de Jó em resposta às palavras de Deus (Jó 38:1-42:6). E o livro termina com os amigos de Jó sendo repreendidos por causa das coisas loucas que disseram, e com Jó sendo restaurado e grandemente abençoado por Deus (Jó 42:7-17).
A importância do livro de Jó
O livro de Jó é particularmente importante para ensinar aos cristãos que o sofrimento também é governado pela perfeita sabedoria divina. Apesar de muitas vezes o crente não encontrar uma explicação racional ou teológica para o sofrimento que o acomete, ele deve confiar em Deus e ter plena certeza de que todas as coisas estão sendo dirigidas de acordo com a bondade, misericórdia e soberania do Senhor.
De forma geral, a Bíblia diz que Deus castiga a desobediência e recompensa a obediência. Mas isso não quer dizer que o relacionamento entre Deus e o seu povo deva ser resumido a uma visão simplista de bênçãos e maldições.
A verdade é que nem sempre o crente sabe o que está por trás do sofrimento que o acomete. No livro de Jó, nunca fica claro para Jó as razões de seu sofrimento. O livro de Jó termina sem que Jó saiba a respeito do desafio no céu entre Deus e Satanás que resultou em sua intensa provação.
Mas em tudo isso o livro de Jó também mostra que a verdadeira fé é inabalável. Ela não é destruída pelo sofrimento, e nem é sufocada pela limitação da sabedoria humana em encontrar respostas para tudo.
Ao contrário disso, a verdadeira fé é aperfeiçoada na dor e conduz o crente à adoração humilde perante o Senhor enquanto aguarda com confiança o socorro divino. O livro de Jó mostra que o povo de Deus sofre, mas por mais que o sofrimento possa ser intenso, em algum momento ele chegará ao fim.
Cristo e o livro de Jó
Por fim, nos grandes diálogos do livro de Jó fica registrado a necessidade que o homem possui de ter um Mediador que tenha acesso ao trono celestial e defenda sua causa (Jó 5:1; 9:33; 16:20; 19:25; 33:23). Obviamente essa ideia aponta para Cristo, o único e verdadeiro Mediador entre Deus e os homens.
Embora Jó fosse inocente naquela causa, ele era um homem pecador como qualquer um de nós. Ele clamou por justificação, mas sabia que isso não seria possível por seus próprios méritos. Por isso ele reconheceu que precisava de um Redentor que pudesse lhe justificar. Isso explica sua declaração: “Porque eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra” (Jó 19:25).
De certa forma, o sofrimento de Jó também prefigurou o sofrimento de Cristo. Mas diferentemente de Jó, Cristo realmente era inocente em absolutamente tudo. Ele não teve nenhum pecado, mesmo tendo sido tentado em todas as coisas.
Cristo é Aquele que se compadece das nossas fraquezas e nos assiste em nossos sofrimentos. Ele suportou todo o sofrimento sem culpa, a fim de que pudéssemos encontrar n’Ele a justiça da qual precisamos diante de Deus.
Como o livro de Jó deixa bem claro, a sabedoria humana tem seu limite, mas Cristo é a “sabedoria de Deus” (1 Coríntios 1:24; Colossenses 2:3). Então pela graça divina, por meio da fé em Cristo, podemos ter acesso à sabedoria que vem do alto que nos leva a uma vida de temor a Deus e obediência aos seus mandamentos.
Esboço do livro de Jó
Um esboço simples do livro de Jó pode ser organizado da seguinte forma:
Prólogo (Jó 1:1-2:13).
O tormento de Jó (Jó 3:1-42:6) – incluindo os diálogos de Jó e seus amigos (Jó 3:1-27:23), a reflexão sobre a sabedoria (Jó 28:1-28) e os monólogos (Jó 29:1-42:6).
Epílogo (Jó 42:7-17).
Fonte Daniel Conegero , estiloadoracao.com