Soteriologia: quais as diferentes teorias da expiação?
Ao longo da História, várias visões diferentes sobre a expiação foram desenvolvidas, propostas e defendidas. De forma resumida, vejamos as teorias mais conhecidas:Teoria da Recapitulação: esta teoria defende a ideia de que o sacrifício de Cristo reverteu o curso da humanidade da desobediência para a obediência; e que a vida de Jesus representou todas as fazes da vida humana, daí a ideia de “recapitulação”. Esta teoria não encontra apoio bíblico.
Teoria Mística: esta teoria diz que a expiação de Cristo foi um triunfo contra a sua própria natureza pecaminosa. Então supostamente essa vitória influencia o homem a querer se aproximar de Deus. Nesta teoria Jesus é classificado como um pecador entre os pecadores. Por isto ela contradiz totalmente a Bíblia que afirma claramente que Jesus nunca pecou e que não foi achado pecado algum n’Ele. Jesus era santo, inocente e separado dos pecadores (Hebreus 7:26). O próprio Jesus desafiou os homens a encontrarem qualquer pecado n’Ele (João 8:46). A Bíblia também diz que Cristo é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1:29). Esta visão também leva ao universalismo da salvação, ou seja, à salvação de todos os homens. A Bíblia diz claramente que nem todos serão salvos, e que haverá condenação eterna para os perdidos (Mateus 25:41,46; Apocalipse 20:14,15).
Teoria do Resgate Pago a Satanás: você já deve ter escutado algo relacionado a esta teoria. Nela é defendida a ideia de que o sacrifício de Jesus foi para pagar um resgate a Satanás. Ele teria comprando a liberdade do homem que era escravo do Diabo. Esta é outra teoria totalmente contrária aos ensinos bíblicos. Deus nunca deveu nada a Satanás, e o homem pecador também não. O pecado colocou o homem em divida com Deus e não com o Diabo. Biblicamente a exigência do pagamento de um resgate foi em relação à justiça de Deus, ou seja, Deus é quem exige tal pagamento.
Teoria do Exemplo: esta teoria coloca a expiação de Cristo como um exemplo de obediência e fé a ser seguido. Claro que a vida de Jesus é um exemplo que deve ser seguido. Mas da forma como é colocado na Teoria do Exemplo, ocorre a negação do estado espiritual morto e caído do homem, contradizendo a Bíblia.
Teoria da Influência Moral: semelhante a Teoria do Exemplo, esta teoria afirma que a expiação de Cristo demonstra um amor que influencia o homem ao arrependimento. Esta teoria também nega a doutrina bíblica da total incapacidade humana em se arrepender por si só.
Teoria Governamental: esta visão foi elaborada por Hugo Grotius (1583-1645 – o mesmo do Direito Internacional) e traz a ideia de que o sacrifício de Cristo substituiu a penalidade do pecado, mas no sentido de que as leis de Deus foram quebradas e que alguma penalidade foi paga, dependendo agora do homem reconhecer tal pagamento. Sob este aspecto, a morte de Cristo seria apenas o pagamento suficiente de uma divida, ao invés de um sacrifício verdadeiro e inatingível para qualquer humano para satisfazer a justiça divina. Desta forma, a Teoria Governamental resulta na ideia de que a morte de qualquer outra pessoa teria tido o mesmo valor da morte de Jesus; desde que os homens se convencessem do seu estado de pecado e das consequências desse pecado.
Teoria da Substituição Penal: esta visão é mais concreta biblicamente. Ela afirma que o homem natural está morto espiritualmente em seus delitos e pecados. Ele é incapaz de qualquer ação positiva em relação à sua própria salvação. Então o sacrifício de Cristo expiou a culpa, cumprindo completamente as exigências da justiça de Deus sobre o pecado, trazendo perdão, imputando justiça e reconciliando o homem com Deus.
Soteriologia: Sinergismo e Monergismo
Dentro da soteriologia bíblica também é discutida a forma com que o homem interagem no processo de salvação. Neste ponto surge duas ideias básicas: Sinergismo e Monergismo.No sinergismo a salvação é definida como um resultado da vontade de Deus em cooperação (sinergia) com a escolha humana. Já no Monergismo, a salvação é uma obra absolutamente de Deus, sem influência alguma do homem. Em outras palavras, o que esta realmente sendo discutido é o tão famoso debate entre livre-arbítrio e predestinação.
A questão do Sinergismo e Monergismo deu origem a um grande debate se estende dentro da Igreja ao longo dos séculos. Esse debate resultou em algumas linhas teológicas muito conhecidas e aplicadas nas igrejas.
Arminianismo: o maior expoente deste sistema foi o teólogo holandês Jacob Armínio (1560-1609). Este sistema tenta explicar uma ideia de livre-arbítrio humano em relação à soberania de Deus. O Arminianismo deposita mais ênfase na responsabilidade humana que, em certo momento, acaba se sobressaindo em relação à soberania de Deus, pelo menos no que diz respeito à salvação. Os pontos principais do Arminianismo moderno são: Depravação Parcial (o homem mesmo corrompido pelo pecado é capaz de escolher se aproximar de Deus); Eleição Condicional (Deus elegeu os salvos com base em sua presciência sabendo quem iria crer n’Ele); Expiação Ilimitada (Jesus morreu por todos, incluindo os que não serão salvos); Graça Resistível (o homem pode resistir à salvação); Queda da Graça ou Salvação Condicional (o homem pode perder a salvação, sendo necessário então mantê-la). Vale lembrar que o Arminianismo clássico rejeita a Depravação Parcial e tem uma visão mais parecida com o Calvinismo em relação à Depravação Total. Muitos arminianos, principalmente os clássicos, também rejeitam a ideia da Queda da Graça.
Calvinismo: tem João Calvino (1509-1564) como maior expoente, embora antes dele muitos líderes da Igreja já defendiam a mesma ideia em relação à salvação. O Calvinismo enfatiza a soberania de Deus em relação à responsabilidade humana, e nega a ideia de livre-arbítrio. Os pontos principais do Calvinismo são: Depravação Total (o homem é incapaz de escolher a salvação por estar morto em delitos e pecados); Eleição Incondicional (Deus elegeu soberanamente alguns para a salvação já que o homem é incapaz de qualquer resposta à Deus); Expiação Limitada (o sacrifício de Jesus é eficaz apenas para os eleitos, ou seja, Cristo morreu apenas pelos que realmente seriam salvos); Graça Irresistível (quando Deus chama o homem, este efetivamente responde de forma positiva); Perseverança dos Santos (todos aqueles que Deus escolheu irão perseverar na fé e jamais pereceram, pois a obra de Deus é completa). Dentro do Calvinismo existe também o Calvinismo de Quatro Pontos. Este último discorda da ideia de Expiação Limitada e defende uma visão semelhante ao do Arminianismo.
Pelagianismo: ensino que foi defendido por um monge chamado Pelágio do século IV. Seu ensinamento afirmava que os homens não nascem contaminados pelo pecado. Segundo ele os homens são naturalmente inocentes e aprendem a pecar no decorrer da vida. Este é o ensino mais focado na defesa do livre-arbítrio do homem. Para o Pelagianismo o homem possui uma alma livre do pecado, ou seja, ele pode ser imparcial. Esta ideia contradiz totalmente a Bíblia que afirma que todos os homens são afetados pelo Pecado Original de Adão (Romanos 5:12). Ninguém consegue escapar de nascer com inclinação ao mal (Romanos 3:10), já que somos pecadores no momento da concepção (Salmo 51:5). Como resultado disto, todos os homens morrem (Romanos 6:23).
Semipelagianismo: é uma adaptação do Pelagianismo e ensina que a humanidade é contaminada pelo pecado, mas não de tal forma que impeça o homem a se decidir por Deus. Em outras palavras, o homem supostamente seria capaz de cooperar com Deus devido aos seus esforços e escolhas. Então isto seria um tipo de “depravação parcial” e não “depravação total”. A Bíblia é clara ao afirmar que o homem é totalmente incapaz de se aproximar de Deus por escolha própria. Ele é incapaz de cooperar com Deus em relação à salvação, e possuí sua natureza completamente corrompida.
O estudo da soteriologia bíblica é muito importante para qualquer cristão. Apesar de neste estudo termos falado apenas sobres os pontos principais da soteriologia, o principal é entender que a salvação é algo tão maravilhoso que excede o entendimento humano. Por mais que estudemos, sempre haverá algo misterioso para nós.
A única coisa que nos resta é epenas reconhecer a gradeza da graça de Deus em contraste com a profundidade da depravação humana. Se fizermos isto, dificilmente iremos contradizer os ensinos bíblicos na área da soteriologia.