O Debate Entre Calvinistas e Arminianos
Um dos maiores debates entre os evangélicos brasileiros atuais é a questão da salvação, uma eterna guerra entre calvinistas e arminianos. Ambos os lados possuem teólogos renomados e bem preparados, capazes de comandar verdadeiros exércitos de seguidores. Este debate, embora complexo, é significativo e benéfico em vários aspectos, pois incentiva os crentes a estudarem mais a Bíblia, a refletirem profundamente e a argumentarem com maior precisão. Contudo, também possui seus desdobramentos negativos. Esse texto busca oferecer uma terceira via para aqueles que não conseguem se identificar plenamente com nenhum dos dois lados desse embate teológico.
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Textos Fundamentais do Calvinismo
Para começarmos a entender este debate, é necessário reconhecer que há textos bíblicos fortes que sustentam tanto o calvinismo quanto o arminianismo. Os capítulos 8 e 9 da Epístola aos Romanos são categóricos. O apóstolo Paulo fala claramente sobre a soberania de Deus na eleição e no destino dos indivíduos, argumentando que Deus, em Sua sabedoria e vontade soberana, predestinou alguns para a salvação e outros para a condenação, independentemente de suas obras. Paulo utiliza exemplos como os irmãos Esaú e Jacó para ilustrar o conceito de predestinação.
Efésios 1 e a Eleição
Outro texto chave para o calvinismo é Efésios 1. No versículo 4, é dito que Deus nos escolheu antes da fundação do mundo para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante Dele, em amor. No versículo 5, Paulo continua, afirmando que Deus nos predestinou para sermos adotados como Seus filhos, por meio de Jesus Cristo, conforme o beneplácito de Sua vontade. Esses textos são considerados inquestionáveis pelos calvinistas e rejeitam qualquer interpretação que tente suavizar o conceito de predestinação como mero pré-conhecimento.
Textos Fundamentais do Arminianismo
Do outro lado, temos os arminianos, que também possuem bases bíblicas sólidas. Textos como "quem se arrepender e crê será salvo" e "vinde a mim todos vós que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei" declaram claramente a responsabilidade individual na aceitação da salvação oferecida por Deus. A escolha pessoal e a consequente responsabilidade pelas ações são enfaticamente abordadas nesses textos.
O Apelo à Responsabilidade Pessoal
Os arminianos ressaltam que Deus chama e convida, mas a resposta cabe a cada pessoa. Textos como "aquele que perseverar até o fim, esse será salvo" e "eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei" são usados para enfatizar essa perspectiva. Isso expõe a dualidade das Escrituras ao tratar da salvação, levando à assertiva de que nenhum dos lados está completamente errado.
A Aparente Contradição Teológica
Essa discordância teológica não se limita apenas aos textos do Novo Testamento. No Antigo Testamento, encontramos complexidades semelhantes, como no caso do endurecimento do coração do faraó no livro do Êxodo. Deus endureceu o coração de faraó, mas ao mesmo tempo o texto afirma que foi o próprio faraó quem se endureceu. Esse exemplo reflete a dualidade e complexidade das Escrituras.
Problemas na Oração
Em uma perspectiva puramente calvinista, não faria sentido orar pela salvação de alguém, pois os eleitos já estão predestinados. Já na visão arminiana, a oração pela salvação também seria desnecessária, pois Deus não interferiria no livre arbítrio humano. Isso cria um problema aparentemente insolúvel para ambas as posições.
Equilibrando as Doutrinas
Assim como é necessário equilibrar outros elementos teológicos, como a natureza divina e humana de Jesus ou a justiça e o amor de Deus, também precisamos buscar um equilíbrio entre as perspectivas calvinista e arminiana. A Bíblia nos apresenta uma visão onde ambas as perspectivas, soberania de Deus e responsabilidade humana, devem ser consideradas harmoniosamente.
Natureza Humana e Divina de Jesus
Para exemplificar, se considerarmos Jesus como apenas divino, Seu sacrifício perderia seu valor redentor, pois Ele não teria sofrido genuinamente como ser humano. Por outro lado, apenas humano, Ele não poderia ter a capacidade de nos salvar. Igualmente, a Bíblia como sendo apenas um livro humano seria cheio de falhas, mas como um livro puramente divino poderia ser interpretado de formas arbitrárias e místicas.
O Ponto de Equilíbrio
A solução parece residir em aceitar a tensão entre esses conceitos. É fundamental reconhecer tanto a soberania divina quanto a responsabilidade humana. Como um calvinista e arminiano ao mesmo tempo, ao orar, depositamos nossa confiança em Deus (perspectiva calvinista), mas, ao agir, exercemos nossa responsabilidade (perspectiva arminiana).
Riscos da Supervalorização
Supervalorizar a soberania de Deus ou a liberdade humana pode levar a desvios teológicos. O "super arminiano" corre o risco de ver a salvação como uma conquista pessoal, o que diminui o valor do sacrifício de Jesus e pode levar ao legalismo. O "ultra-calvinista" pode cair em uma visão fatalista, onde até mesmo os pecados são vistos como determinados por Deus, diminuindo a responsabilidade pessoal e desvalorizando a evangelização e a santificação.
Conclusão
Não há problema em se identificar como calvinista ou arminiano, ou mesmo em manter-se em um meio-termo. O importante é evitar extremos e buscar um equilíbrio. Essa harmonia entre soberania divina e responsabilidade humana é fundamental para uma compreensão mais segura do tema da salvação.
Independentemente da posição teológica, é crucial lembrar que enquanto estivermos ajoelhados em oração, confiamos na soberania de Deus (calvinista) e quando estamos de pé, agimos conforme nossa responsabilidade (arminiana).
Agora queremos saber: você é calvinista, arminiano ou busca um meio-termo sutil entre os dois? Deixe seu comentário e compartilhe sua perspectiva. Até a próxima!
Fonte: https://www.youtube.com/@TeologiaIlustrada