No dia 31 de outubro de 1517, o monge agostiniano Martinho Lutero afixou as 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg. Essa atitude foi motivada pela crença de que a Igreja da época ensinava a venda de "metragens quadradas no céu" por meio do sacramento da penitência, aplicado às indulgências. Esse ato foi o estopim para a Reforma Protestante.
A intenção de Lutero não era fundar uma nova denominação; pelo contrário, seu objetivo era reformar a Igreja da época. No entanto, os desdobramentos após o manifesto das 95 teses levaram Lutero a romper com a Igreja Católica Romana.
A Reforma Protestante foi um divisor de águas no cristianismo ocidental. Embora não tenha solucionado todos os problemas e necessidades, foi um movimento necessário para que hoje possamos usufruir de dias melhores. Suas contribuições foram numerosas, e destacamos os famosos axiomas que resumem a teologia da Reforma. Os cinco axiomas da teologia protestante são: Sola Scriptura, Solus Christus, Sola Gratia, e Sola Fide. Esses pontos ilustram como a hermenêutica protestante se distingue da hermenêutica católica.
Neste artigo, abordaremos o conceito de Sola Scriptura. Em latim, "Sola Scriptura" significa afirmar a suficiência e a autoridade das Escrituras. Essa afirmação não implica ignorar a tradição e os primeiros concílios da história da Igreja, mas sim reconhecer que as Escrituras estão acima de qualquer documento ou líder eclesiástico. A Igreja de Cristo é regida pelas Escrituras porque estas são a palavra de Deus. Os reformadores tinham isso em mente e acreditavam que as Escrituras deveriam ter primazia nas igrejas.
Mas os pentecostais defendem a Sola Scriptura? Seus críticos afirmam que os pentecostais não possuem uma teologia sólida, caracterizando suas crenças como um mero "emocionalismo". No entanto, essas críticas geralmente se baseiam no "pentecostalismo popular" e não na teologia oficial. Além disso, muitos problemas não são exclusivos das igrejas pentecostais; eles também ocorrem em outras tradições evangélicas. Então, afirmar que os problemas só acontecem nas comunidades pentecostais é, no mínimo, desonestidade das grandes.
Os pentecostais seguem fielmente a Sola Scriptura. Segundo Robert Menzies, “os pentecostais são o 'povo da Bíblia'. Embora incentivem as experiências espirituais, fazem-no com um olhar atento às Escrituras” (MENZIES, 2016, p. 46). Para os pentecostais, as experiências espirituais são vividas porque estão registradas nas Escrituras. Nenhum teólogo pentecostal ensina que “as experiências estão acima das Escrituras”; ao contrário, acreditam que as experiências estão subordinadas a elas. As Santas Escrituras regem a vida espiritual.
Os pentecostais vivem as experiências descritas no livro de Atos, pois creem na contemporaneidade dos dons espirituais. Eles acreditam na manifestação sobrenatural do Espírito Santo, pois, em Atos dos Apóstolos, a Igreja Primitiva experimentava o poder do Espírito e falava em línguas. Diferente de outras tradições que interpretam as narrativas bíblicas para extrair o “kerigma” (mensagem) voltada para questões éticas, os pentecostais creem que, quando Jesus curou os enfermos, isso significa literalmente a cura do enfermo e não uma “mensagem ética” para tirar uma lição.
A teologia pentecostal não compactua com a "teologia popular", que, infelizmente, muitas vezes carece de uma espiritualidade saudável. Por meio da exposição das Escrituras Sagradas, é possível combater erros teológicos e conceitos bizarros que têm surgido em nosso meio. Assim como os reformadores, os pentecostais podem e devem exercer a mesma seriedade para enfrentar esses graves equívocos.
Os pentecostais podem afirmar, sem medo, parafraseando Fontes, que “a Teologia Pentecostal segue o princípio da Reforma Protestante, Sola Scriptura” (FONTES, 2019, p. 33).
Referências Bibliográficas:
FONTES, Ediudson. Reforma Protestante e Pentecostalismo: A Conexão dos Cinco Solas e a Teologia Pentecostal. Editora Reflexão, 2019.
MENZIES, Robert. Pentecoste: Essa História é a Nossa História. Rio de Janeiro: CPAD, 2016.
Ediudson Fontes é Pastor auxiliar da Assembleia de Deus – Ministério Cidade Santa no RJ. Teólogo. Pós-graduação em Ciência das Religiões. Mestrado em Teologia Sistemática. Professor de Teologia, autor das obras: “Panorama da Teologia Arminiana”, “Reforma Protestante e Pentecostalismo – A Conexão dos Cinco Solas e a Teologia Pentecostal” e “A Soteriologia na relação entre Arminianismo e Pentecostalismo”, todos publicados pela Editora Reflexão. Casado com Caroline Fontes e pai de Calebe Fontes.
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