A Ásia Central, uma região formada pelas ex-repúblicas soviéticas, foi a base da entrevista com o cristão Nurbek (pseudônimo), que visitou a sede da Portas Abertas em São Paulo.
Nurbek é um jovem líder cristão que trabalha para fortalecer os cristãos que vivem nos países da região, como Uzbequistão (25º), Turcomenistão (29º), Tajiquistão (46º), Cazaquistão (47º) e Quirguistão (61º). Confira abaixo a entrevista completa com o cristão perseguido da Ásia Central.
Portas Abertas: Como são as igrejas na Ásia Central?
Nurbek: As igrejas na Ásia Central diferem na quantidade de pessoas e nos locais onde se reúnem. Para nós, uma igreja normal reúne entre 15 e 20 pessoas. A maioria das igrejas são clandestinas, não têm um registro do governo para funcionar. Para ser registrada, essa igreja precisa ter prédio próprio que caiba no mínimo 200 pessoas. Todos os membros precisam informar seus nomes, endereços e locais onde trabalham para o governo. Mas isso acontece mais nas igrejas das capitais.
Culturalmente, o pastor reúne as poucas pessoas em sua própria casa. É como um grupo pequeno, em que sempre tem comida. Caso ele reúna muita gente, há o risco de alguém denunciá-lo para as autoridades. Ninguém convida uma pessoa na rua para ir à igreja. Primeiro, fazemos amizade para perceber se a pessoa é aberta ao evangelho, depois a chamamos para ir à igreja.
As igrejas clandestinas precisam tomar muito cuidado. Precisam ver se todas as janelas e portas estão fechadas, se o som não é audível fora da casa. Existem lugares em que o momento de louvor não existe para evitar que alguém de fora ouça. As igrejas não são tão abertas como as daqui no Brasil, que você acorda domingo de manhã abre o celular e pode escolher onde vai participar do culto. Na Ásia Central, isso é muito difícil, porque mesmo sabendo que em uma determinada casa é uma igreja, você precisa ganhar a confiança para ser convidado a ir àquela igreja.
Há dois meses, eu conheci uma igreja que desejava fazer uma festa para as crianças do local. Era aniversário do filho do pastor e decidiram fazer uma festa para as crianças de toda rua. Todo mundo foi, brincou e os cristãos começaram a distribuir os presentes para os convidados e tinha uma imagem de cruz no embrulho dos presentes. Quando uma das crianças voltou para casa e mostrou para os pais, eles juntaram a vizinhança e foram confrontar a família do pastor. Queriam expulsá-los dali, chamaram a polícia, os cristãos foram levados para a delegacia, mas não tinham provas de que estavam evangelizando ou fazendo algum trabalho religioso com as crianças. Agora, eles precisam ter muito cuidado com os cultos clandestinos. Eles estão se reunindo em outros locais para não chamar a atenção. Temos muitas histórias desse tipo.
Qual a maior necessidade da igreja na Ásia Central?
Nós precisamos de uma nova geração de líderes, de pastores firmes na palavra e na perseguição, firmes no ministério e no Reino de Deus. E o Senhor está trabalhando para isso acontecer. Estamos em uma época em que a primeira geração de cristãos vai passar o bastão para a próxima geração. Vimos uma grande diferença de número de pastores da primeira geração para a nova. Temos poucos líderes de jovens. Oramos para que haja um avivamento, como estamos clamando, precisamos de uma nova geração de líderes.
Como as igrejas brasileira e latina podem contribuir para a igreja na Ásia Central?
Em primeiro lugar, precisamos de intercessão. Tudo o que a gente sonha, planeja e faz tem que ser por meio de oração. Se as igrejas brasileira e latina orarem por nós, isso nos fortalecerá. Em segundo lugar, vocês já estão fazendo, que é ajudar a Igreja Perseguida. Precisamos que vocês continuem a fazer esse trabalho lindo e precioso para a nossa região. Outro ponto é que os brasileiros e latinos podem servir em nossa região. Muitos americanos e europeus estão saindo e os brasileiros e latinos são mais bem-vindos e amados em países muçulmanos. A questão da cultura faz os povos brasileiro e latino serem mais abertos, o que dá a vocês um perfil perfeito de missionário.
Como você e sua família experimentaram a perseguição?
Quando eu tinha seis anos, meu pai conheceu a Cristo. Por causa disso, os familiares se distanciaram. Eu cresci muito isolado dos meus parentes, não tive contato com meus avós até os 18 anos. Na escola, eu tinha dificuldade em falar que eu era cristão porque seria isolado na comunidade e nos eventos sociais. Até os 15 anos, era como se eu fosse um ateu na escola, porque não falava de nenhuma religião.
Como foi para você decidir seguir a Jesus apesar da perseguição?
Houve uma época em que eu tive raiva por meus pais serem cristãos. Ficava me perguntando o motivo de sofrermos tanto e por que não tínhamos liberdade de fazer e falar nada. Entre os 16 e 17 anos, percebi que as crianças cristãs com necessidades físicas especiais seguiam a Jesus apesar das dificuldades, da discriminação e da perseguição. Nessa época, eu decidi entregar a minha vida a Jesus. Decidi servi-lo completamente por toda a minha vida.
Como é seu trabalho com os cristãos na Ásia Central?
Eu sempre trabalhei com os jovens, mas Deus foi me mostrando a área de profissões e negócios. Nossos jovens querem ir para o exterior em busca de novas oportunidades, então queremos gerar trabalho para que não precisem fugir e tenham como se sustentar na Ásia Central. Também temos uma escola bíblica presencial e online. Assim, viajamos para dar treinamentos de liderança e promovemos retiros para pastores e líderes cristãos.
Qual a sua mensagem para os jovens cristãos que oraram pela Ásia Central durante o Shockwave 2023?
No que vocês mais investem enquanto são jovens? Na história do jovem rico, Deus está falando sobre prioridade na vida. Será que seu coração está apenas atrás de sonhos materiais ou profissionais? Deus quer que nosso coração seja sempre focado nele. Investir em Deus é o melhor negócio de toda a sua vida e ninguém pode tirar isso de você. Nem a perseguição, o governo ou a família podem separar você do Senhor. Então, se você deseja fazer missões, faça isso. Ore mais pela Igreja Perseguida, por sua igreja e a sirva com amor.
Fonte: Portas Abertas
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