Testemunhas do massacre de Yelwa, na região central da Nigéria, dizem que o número de mortos pode chegar a cerca de 600 pessoas, relata a repórter da BBC Anna Borzello.
Se confirmado, o número seria bem maior do que a estimativa oficial de 67 mortos. De acordo com moradores da cidade, pelo menos 250 cadáveres foram enterrados recentemente.
Yelwa foi palco de um massacre no fim de semana, quando uma milícia de homens armados com sofisiticadas armas de fogo promoveu uma matança em série que durou 24 horas.
O clima na cidade agora é de tensão – e revolta contra as autoridades e a polícia, que, segundo os moradores, se retiraram da cidade enquanto a milícia estava lá e só voltou a colocar os pés no local depois que a matança já havia acabado.
De casa em casa
Em Yelwa, grupos de muçulmanos da etnia Hausa-Fulani se apressam em relatar a história aos visitantes.
Eles dizem que a milícia chegou à cidade no domingo, que muitos de seus integrantes pertenciam a quatro grupos étnicos cristãos das redondezas e que a maioria estava sem camisa e com o dorso pintado com carvão.
Alguns, porém, estavam usando uniformes militares e da polícia, de acordo com testemunhas. Eles foram de casa em casa procurando alguém para matar, roubando e queimando propriedades.
Três mesquitas nesta localidade de maioria muçulmana foram destruídas. A estrada que leva à cidade encontra-se repleta de obstáculos – árvores caídas, galhos, pilhas de metal – colocados pelos militantes para impedir que alguma outra força militar chegasse à cidade para tentar frear a matança.
Retirada estratégica
A polícia afirma que ainda é perigoso ir até a cidade – e pelo menos no que diz respeito às autoridades está claro que isto é verdade.
A população continua irritada com as forças de segurança e, no começo da semana, quando o governador local e o chefe da polícia estadual foram até Yelwa, muita gente se alinhou ao longo das ruas para protestar – eles se sentiram assustados demais para deixar o carro.
Em defesa própria, a polícia diz que às vezes faz sentido fazer uma retirada estratégica e que seus agentes não puderam voltar à cidade enquanto a matança estava acontecendo devido aos obstáculos colocados na estrada.
Agora, o governo da Nigéria implantou um grupo para tentar chegar a uma solução para o conflito que persiste na região e que tem origem em disputas de terra entre grupos étnicos cristãos e muçulmanos.
A tensão tem aumentado desde o começo do ano e vinganças são cada vez mais comuns. No começo do ano, muçulmanos da etnia Hausa-Fulani mataram 49 cristãos que haviam se refugiado em uma igreja e Yelwa.